quarta-feira, 13 de julho de 2016

Entrevista de Asha para curso de jornalismo


Asha, a mulher que despertou

O ambiente estava escuro, apenas a luz da fogueira invadia-o e aquecia todos os corajosos que foram experimentar aquela substância.
Ela estava com um vestido branco e em seus cachos, uma flor. Sua expressão era serena, seu olhar quase perpassava a imagem a sua frente, tamanho o olhar interior que ela possuía. Naquela noite ela queria ajudar outras pessoas, talvez transmitir um pouco do poço de espiritualidade que a rege. 

Era uma cerimônia com as medicinas da floresta, em especial, a Ayahuasca, a substância que a surpreendeu e mudou completamente a sua vida. 
Budismo, xamanismo, holística e reiki são algumas espiritualidades conhecidas por Asha, a sacerdotisa de Gaia, que se construiu a partir de várias espiritualidades, verdades e crenças. 

Ela construiu a sua própria espiritualidade através de suas vivências, leituras e mirações. Para Asha, não há religiões, a fonte é uma só, uma energia que se
manifesta em formas, intensidade e frequência diferentes. Nascida com o nome de Juliana, ela viveu sua infância em contato com a natureza, tendo a liberdade como melhor companhia. Aos 18 anos casou, engravidou, e começou a viver um estereótipo social. “Minha alma gritava por liberdade, me pedia para seguir meu caminho. Me sentia morrendo aos poucos”, conta.
Desde então, iniciou uma busca por si mesma, por sua espiritualidade. Com dois filhos pequenos, ela foi em busca da sua missão e foi lendo um livro de Osho, mestre indiano, que ela renasceu. Agora com o nome de Ma Marga Asha. Ma significa mãe de si mesma, Asha, esperança e Marga, caminho. Mãe do caminho da esperança.A mulher de 31 anos acredita na existência de muitas realidades e, para ela, nós escolhemos a que queremos viver. O mundo de uma maneira geral é uma ilusão, no budismo isso se chama samsara, os hindus chamam de maya, o povo da nova era, de matrix, os hippies, de babilônia, mas independente do nome, existem muitas realidades. Asha conta que o que acontece no mundo a afeta, mas se ela pode amenizar esse impacto, o faz. Por isso ela opta por não assistir televisão e ler jornal, para não trazer a violência para dentro de casa. Ela acredita que saber disso não agrega em nada. Asha e seus filhos vivem nesse mundo, mas alheios a ele. “Precisamos criar uma nova forma de viver, isso é o
que penso, mantenho uma vibração energética a qual essa realidade não faz parte de nossas vidas, como se vivesse em outro mundo”, afirma. Segundo Asha, não é saudável se prender a arquétipos construídos pela sociedade, em algum momento é preciso amadurecer, buscar referências interiores, seguir os sonhos, cortar os laços nocivos e tomar posse da própria vida. Foi o que ela fez.
Atualmente, Asha não possui uma rotina, para ela tudo depende da energia, da lua e dos trabalhos que estão sendo realizados. Sua vida é levada de acordo com a sua espiritualidade e conexão com a natureza.
Em um contexto geral, ela pratica meditação, yoga, organiza eventos, cursos e vivências. Além de cuidar e dar a atenção necessária aos seus filhos.
“Gosto de alimentar meu mundo interior mais do que o exterior”. É esse o pensamento que determina o limite social de Asha. Para ela, não é interessante nada que não agregue algo aos valores internos, por isso seu meio social é restrito, já que, em sua visão, a superficialidade ronda esse meio.

A espiritualidade dela foi construída sob medida por ela mesma, mas Asha tem uma opinião sobre as religiões “pré-fabricadas”. “Religião é um mal necessário, às vezes, é toda a referência que uma pessoa tem de si mesma, ou do mundo. Se tirar isso dela não resta nada, é muito perigoso ficar sem uma percepção do futuro, de esperança ou de algo ou alguém para acreditar”, conta. Para ela, tirar a religião de alguém que precise dela pode ser nocivo e ela ousa dizer que o ser humano é incapaz de viver sem crenças ou sem sonhos, é o combustível para
acordar e dar sentido à vida.
Um ponto fundamental da espiritualidade de Asha é a harmonia com a natureza. De acordo com ela, quando se entra em contato com a conexão de que somos parte da natureza, uma extensão dela, não há nós e ela, não há eu e ela, somos um organismo só. 
A natureza é composta de quatro elementos e nós também somos feitos de terra, água, fogo, ar e outros elementos ainda. A terra corresponde ao nosso corpo, tudo que é físico, a água, nosso sangue, nossas emoções, o fogo, nossa energia vital, nascemos com ela e a repomos, o ar, nossos pensamentos, a mente. Ela acredita que tudo o que acontece na natureza, acontece em menor escala conosco, dentro de nós. Ela afirma
que é essa separação que está destruindo a civilização. 
Por isso, Asha procura produzir o mínimo de lixo possível, realiza a compostagem e está com um projeto ambiental, que visa viver ainda mais essa realidade de integração. “Não existe espiritualidade sem consciência ecológica, é impossível, pode rezar, meditar, fazer yoga, se não começar a mudar os hábitos diários, a alimentação, o contato com a natureza, se comunicar com ela e ter essa empatia, não restará futuro para as gerações e o coração não irá florescer em bondade e amor, pois estamos todos interconectados”, reflete a Mãe do caminho da esperança.

É difícil definir a Asha, pois, como ela mesmo diz, ela não possui um limite. Não existe nós e ela, não existe eles e ela. Para ela, somos todos um. Asha é sannyas, uma retirante que vive no mundo, mas não pertence a ele. É como se os valores do mundo não a interessassem, é um meio apenas para realizar mudanças necessárias.
O trabalho espiritual de Asha inclui os detalhes do dia a dia, os pensamentos e sentimentos, a criação das crianças, com os valores que incluem se importar com os outros, mas não aquela falsa caridade ou de ser bonzinho para ir para o céu, é uma questão de inteligência, respeitando as leis que regem o Universo e uma delas é que tudo retorna para você, na proporção que envia. Além disso, Asha possui um trabalho terapêutico direcionado às mulheres, que nasceu danecessidade de resgatar o feminino essencial dentro de cada uma delas.

Sobre os filhos, Asha diz que eles são criados com a liberdade de ser quem são. Não há doutrinação, não há alguém dizendo o certo e errado, eles experimentam e colhem as consequências. “Eles não existem para minha realização e felicidade, tem seus próprios caminhos. Meu papel é facilitar o processo deles, sem apego ou posse, acompanhar até que possam andar sozinhos”, afirma.

Ao final da conversa, ela riu, aquela risada gostosa de quem está feliz por transmitir a sua essência, por transmitir a sua espiritualidade e por ser quem deveria ser. Depois disse apenas uma palavra: gratidão. E com um longo abraço despediu-se. Deixando a sua energia ainda presente.
Dessa vez, o ambiente não estava escuro, não havia a luz da fogueira. Ela não estava com um vestido branco, não tinha mais cachos, nem uma flor. Mas sua expressão continuava serena, seu olhar continuava perpassando a imagem a sua frente, tamanho o olhar interior que ela ainda possui. Nessa noite ela ajudou outras pessoas, transmitindo um pouco do poço de espiritualidade que segue dentro dela.


Curso de jornalismo 
(Nathalia Thomassen, Maria Luiza Parisotto, Kaue Natan, Israel Antunes, Roberto Bett)

Joinville/Julho de 2016


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