sexta-feira, 26 de maio de 2017

A outra dentro de mim

Vamos morrendo aos poucos quando paramos de cantar,de dançar, de tocar ... 
Quando deixamos de fazer o que gostamos, de estar com quem traz aquela sensação de casa, de colo.
Vamos afastando da essência quando mergulhamos no reflexo do outro, quando ele projeta tanta sombra em nós, para que vejamos a nossa.
O brilho vai se apagando para acender e manter uma fogueira na neve em dias tão frios. Vamos morrendo quando não nos olhamos mais no espelho, não nos arrumamos para si mesma, esquecemos a beleza da vida e de si.
Parece um teste, para ver até onde aguentamos ... O corpo não aguenta, ele dói, ele sofre, ele chora, não mais as dores do mundo, mas a dor de si mesma.
De se deixar levar por dias tão iguais, pela falta de paz ...

Vamos indo embora de nós mesmas, deixando aquela velha conhecida tomar posse, sim aquela parte desintegrada que quer ser olhada, aceita e amada.
A parte feia e perversa, a parte negada, a Deusa escura, a mulher ferida, a criança perdida, ela vai e volta, em tantos momentos.
Dessa vez, veio forte, parece que pra ficar, trouxe as malas e algumas nuvens escuras e ficou. 
Não aprendemos a lidar com ela, temos que resgatar as formas de amar o que em nós não é amável e que agora nem podemos mais esconder.
Aceitar e acolher, a única maneira ... Vamos jogar dados, e fazer cócegas uma na outra, vamos chorar juntas e parar de se esconder e se negar.

- Vem cá outra dentro de mim, chega perto, quero te abraçar e dizer que não precisa ficar tão irritada, é normal quando todos te rejeitam e dizem que precisa ser diferente.

Assim, ficamos com ela, e tudo que não for nosso que volte de onde veio, pois não estamos aqui para ser perfeita para ninguém. 
"Sou o que sou, o que quero ser, na luz e na sombra, em casa e na rua, dentro de mim, o que há de errado enfim ..."
Ela se acalma, e sabe que está tudo certo, volta quando os limites são necessários, quando os espaços são invadidos e os abusos não ouvidos.
Fica o tempo que for necessário, não tenho mais pressa que se vá, vou aprender a te ouvir, a te aconchegar no colo, como a Mãe que nunca julga ou a irmã que tudo compreende.

Vamos passear em dias nublados, vamos dançar na chuva, não temos obrigação nenhuma de ser doce, tem dias que podemos ser amargas e azedas, mas não muito porque envelhece nossa pele.
Quero dançar pra lua, entregar nossa sangue à Terra, ficar sozinha, andar descalça, ficar triste e rir muito de tudo quando essa nuvem passar.
Sei que você vai, e também sei que vai voltar, quero aprender a te receber a cada ciclo, assim não brigamos mais.

- Ei você dentro de mim, eu te amo e acolho, do começo ao fim.


Asha
Maio/ 2017