quinta-feira, 10 de março de 2016

Parir os filhos que nunca teremos


Fui caminhando pela mata, desconforto nas costas, barriga pesada, ombros também, atrás de mim, minha mãe, minha avó, as mães e as avós delas. 
As ancestrais, mulheres da minha linhagem, mulheres de culturas tão distintas, de lugares remotos, de tribos distantes.
Elas seguiam no meu ritmo, nos seus rostos alegrias, tristeza, sofrimento, êxtase, faces e fases na eternidade paralela do tempo.
Chego na clareira, um lago em minha frente, cachoeira ao lado, sento me e respiro, ás vezes vejo outras mulheres assim como eu, em outros momentos me sinto completamente sozinha.
Um grande círculo de índias e caboclas se colocam ao nosso redor, proteção, ancoramento, coragem, sentia isso tudo na presença delas e seus rostos e corpos pintados.
No lago se aproximam ninfas, belas sereias de água doce, com seus cabelos compridos, e seus corpos colorido.
Minhas ancestrais em festa por esse momento, a gratidão me preenche, abro minhas pernas e sem sofrimento, deixo tudo ir ... Parir os filhos que nunca teremos, parir os filhos que morreram, os filhos que não pudemos ter ... Parir também meus medos, parir a morte, parir a vida, parir para uma nova vida.
Sem dor no corpo e muita dor na alma, deixar ir, desapegar, soltar para sempre, entregar.
O lago fica negro e vermelho, sangue escorre, bebês nascem e  um espiral de energia branca, sobe e leva tudo para cima, deixando o lago límpido outra vez. 
As sereias levam as crianças, com amor e cuidado.
Sinto a força da Terra, sinto o apoio do Sol e reconheço o poder do amor em mim e em tantas outras mulheres.
Banho me nas águas da alegria e da liberdade, bençãos da cachoeira e a dança em meu corpo, celebra o sagrado e ancestral feminino.

Asha  
Despertar de aprofundamento - Jaraguá do Sul 2016



2 comentários:

  1. Muito belas estas palavras, que formam a canção de todas nós.

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  2. honrar as linhagens,
    se apoiar nelas,
    liberar-se,
    sanar.
    _()_

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